Tenho observado que a evolução se deu por conta das perdas, isso mesmo. Vamos fazer uma caminhada pela história da religiosidade no Brasil e comparar como o marketing foi entrando aos poucos na vida de nossas religiões.

Religiões AFRAS no Brasil
Com a chegada da colonização de nosso chamado Brasil, nossa terra sofreu diretamente a influência do Catolicismo Romano através de suas missões que acompanhavam a Corte Real, e com isso, a proliferação das “ordens” que migravam da Europa com objetivo de “evangelizar” a nova terra e seus pecadores. A mão de obra negra, oriunda do Continente Africano, trás consigo os seus costumes e suas formas de religião o que enraizou em pontos específicos no nosso território e como berço a Bahia foi à grande precursora dos costumes e das religiões afras no Brasil, depois alguns Estados do nordeste e na capital do Brasil o Estado do Rio de Janeiro. Com a liberdade religiosa em nosso Brasil concedida aos chamados protestantes no final do século IXX e antão as chamadas igrejas tradicionais foram se estabelecendo principalmente nas regiões sudeste e sul do nosso Brasil. A força das religiões afras começou a ser minadas e, os famosos “terreiros” começam a perder força principalmente nos meados da década de 80 com a ascensão de igrejas que combatiam os cultos aos orixás e outras entidades. Nasce a Igreja Universal do Reino de Deus e tem o seu principal líder um homem que fez uma leitura do contexto espiritual do Brasil que passava por uma situação econômica delicada e um regime político opressor e decaído. Muitas pessoas que freqüentavam esses terreiros de candomblé e umbanda foram se convertendo ao cristianismo e com isso o golpe foi muito forte. Hoje existe a religião afra e seus ramos, mas as perdas foram enormes. O que o marketing tem a ver com isso? Veremos mais a frente.

Catolicismo no Brasil
Como citamos acima o catolicismo no Brasil sempre foi muito forte, mas a metodologia aplicada no dia a dia das missas e com os métodos arcaicos replicados da liturgia de Roma, a religião também suas perdas e, com isso, começou a sua maratona para recuperar seus mercados, que haviam perdido para os então protestantes, que ofereciam um “novo” método de vida. Para não perder os seus rebanhos começaram a copiar as formas de culto que os protestantes, não abandonando seus costumes e credos. Faço uma pergunta: Quando é que nós tínhamos padres cantando e pregando como pastores evangélicos pregando em horários em televisão no Brasil? Surgem os movimentos chamados de carismáticos e começam a mudar a proposta de culto na vida de seus fieis. Eu particularmente fui visitar umas dessas reuniões na cidade do Rio de Janeiro, quando lá morava. Fiquei impressionado com a forma que adotaram para cultuar. Isso ocorreu no inicio da década de 90, mas esse movimento é mais antigo. Vamos à jogada de marketing. O lançamento do Padre Marcelo Rossi no cenário nacional como o homem que estava revolucionando o cenário dos católicos. Missas com mais de cinco mil pessoas na cidade de São Paulo e daí por diante, não parou mais. Reformulação das metodologias da missa e um novo padrão estavam sendo definido para o catolicismo no Brasil. As gravadoras aproveitaram a oportunidade e lançaram os CDs e depois os DVDs que foram e ainda são sucessos. Hoje ou padres, como Fábio de Melo viraram os símbolos de uma nova geração. Conjuntos e cantores que ganham o auge nas suas carreiras fonográficas e com milhões de seguidores.

Protestantismo no Brasil
Esse eu posso falar com muita propriedade, pois conheço muito bem. Posso afirmar que foi o que mais cresceu no Brasil nos últimos 30 anos. Com o advento das igrejas chamadas de NEO Pentecostais, nascidas com o objetivo de “renovação” ou “libertação” dos padrões das igrejas chamadas de “tradicionais”. Igrejas como Presbiterianas, Batistas, Congregacionais, Metodistas, começaram a ser bombardeadas como uma nova teologia que chegava ao Brasil, por volta dos anos 80. Prometendo uma vida de vitória em todas as áreas e a prosperidade plena, logo teve uma adesão e não parou mais. Prova disso são as múltiplas denominações que estão espalhadas pelo nosso Brasil. Imaginem um país que viveu sobre a pressão da ditadura militar por 21 anos e que estava influenciado por ideologias de libertação e de comunismo como sendo a alternativa para países como os da América do Sul. Com esse quadro de sentimentos nascem e fortificam no seio da nossa sociedade o desejo de viver como “cabeça’ e não como “cauda” como foi o lema de muitas igrejas. Os cantores entraram no ritmo das grandes gravadoras e a partir daí a comercialização de “hinos” e “músicas” virou um verdadeiro comercio nacional. Imaginem vender para um mercado de mais de 35 milhões de consumidores?
Mercado Brasil
Com base nessas informações históricas podemos fazer uma análise mercadológica e como ela é bem sucedida. Quando as empresas enxergaram que poderiam explorar esse mercado consumidor e desenfreado, não perderam tempo. Colocaram as técnicas de marketing e partiram para fidelizar seus segmentos. Com um país que vive uma farsa econômica e que favorece a corrupção, onde os níveis de desemprego não apresentam o quadro real.
Um país onde os comerciais de televisão induzem o indivíduo a se endividar a cada dia e consumirem sem freio e sem necessidades reais. A tecnologia produz novos equipamentos que viram febre da noite para o dia, gerando consumo pleno. Um país onde a saúde e a educação são os grandes trunfos para políticos corruptos que se alimentam da desgraça dos próprios compatriotas em detrimento aos prazeres pessoais e familiares. Isso e muito mais alimentam os mercados de aproveitadores espirituais que vendem a necessidade de saúde em reuniões que arrebanham milhares de pessoas, que enchem estádios de futebol em busca de um milagre. Usam horários das televisões para seduzirem o povo a dar o seu “tudo” e depois “receber” em troca. Um povo que está desempregado corre atrás das chamadas de “campanhas” de “prosperidade” que prometem emprego na mesma semana. Imagem como soa bem aos ouvidos de quem está em desespero, pois os filhos estão passando dificuldades, falta o alimento e o sustento.
Esse é o mercado que vivemos todos os dias. As religiões vendem e com muita propriedade suas fórmulas mágicas de solução de problemas. Acompanhei as programações de televisão e fiquei impressionado quando me deparei com os três grupos que citei acima: Religiões Afras, Catolicismo e Evangélicos na mesma tarde. Cada um apresentava suas verdades para solução de problemas. Após ver os programas exibidos fui motivado a escrever estas linhas e compartilhar com você como o marketing funciona e até a presente data a minha análise, não tinha sido tão profunda.
Os mercados existem e são consumidores. Essa é uma verdade no mundo do marketing. Quem fizer a melhor leitura e “entender” como funciona, vai tirar vantagem. Sou profissional de marketing e vejo como está evoluindo a cada dia as técnicas de análise de comportamento humano e muitos estão ligados para tirar proveito.
Faça uma análise você também e veja como foi convencido a consumir um produto que não desejava, mas que no fundo considera uma necessidade. Se isso acontecer é porque o marketing funciona mesmo.
Não vai demorar muito para as promoções da fé surgirem nas telinhas. Cartão de crédito ou dinheiro ao vivo?

Um forte abraço e até a próxima reflexão.
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